Raptos de viajantes por grupos terroristas ao longo da Estrada Nacional 380, em Cabo Delgado, estão a comprometer a retirada da região e a colocar em risco a ajuda humanitária. Empresários são os principais alvos.
Os ataques terroristas contra viagens de passageiros e de carga ocorreram especialmente entre a sede distrital de Macomia e a localidade de Awasse, em Mocímboa da Praia , na província de Cabo Delgado .
Em Mueda, Lucas Manuel, o representante local do setor privado, alerta que os agentes económicos estão particularmente expostos .
“Nos últimos três meses, a situação de sequestros acontece duas a três vezes por semana, sendo o distrito de Mueda o que apresenta o maior número de empresários afectados por esta situação”, frisou durante uma reunião empresarial a que a DW teve acesso.
Desde o início do ano, há registo de 104 viagens atacadas, entre carros particulares, transportes de passageiros e camiões de carga. Os ocupantes foram sequestrados e os raptores exigiram resgates em troca de libertação.
Para o presidente do Conselho Empresarial Provincial de Cabo Delgado, Mahamudo Irache, trata-se de uma verdadeira tragédia: “Isso é terrível, porque o resgate é caro. Os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais [o equivalente a 2.690 e 4.700 euros, respetivamente]. Se você não tem esse dinheiro, a viatura é transformada em cinzas”.
Cássimo Salimo, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários (ATROCADE) na província de Cabo Delgado, também aponta para os prejuízos sofridos e apela à intervenção do Estado.
“É um assunto muito lamentável, pois os nossos transportadores estão a reclamar-se , e de facto isso acontece”, afirmou. “Pedimos que o Governo nos ajude nesse contexto, porque se você quiser viajar não consegue passar [na estrada Macomia–Mocímboa da Praia]”, alertou.
O clima de insegurança, segundo o académico e ativista social Aly Caetano, poderá trabalhar não apenas a volta económica, mas também as operações de ajuda humanitária, num momento em que várias comunidades deslocadas regressaram às zonas afetadas pelo terrorismo .
“Isso pode alastrar-se para as organizações não-governamentais e paralisar as atividades [de assistência humanitária] por causa do medo . Já há restrições em vários distritos de Cabo Delgado, onde as organizações não operam. E esse nível de insegurança vai aumentar as restrições, impactando a resposta humanitária para os deslocados.
Perante o cenário, o sector empresarial exige ao Governo o reforço da presença militar e a reintrodução de escolas armadas na EN380, com especial atenção ao segmento Macomia–Mocímboa da Praia.
“Retomando as escoltas, obviamente os empresários sentir-se-iam seguros. Depois, o Governo deveria fazer mais esforço para eliminar a insurgência na nossa região . Como são áreas identificadas, onde sempre aconteceram os atos de rapto, seria necessário colocar uma posição permanente nesta via”, sugeriu Mahamudo Irache.
Fonte: DW