SÃO MIGUEL REGISTOU MAIS DE 40 CASOS DE ESQUISTOSSOMOSE ENTRE JANEIRO E MARÇO


Depois da queda das primeiras chuvas, é comum ver, no interior da ilha de Santiago, jovens e crianças a aproveitar os tanques de água usados para a agricultura para se refrescarem e brincarem. Em São Miguel, entre Janeiro e Março deste ano, foram confirmados mais de 40 casos da doença esquistossomose, sobretudo em crianças do sexo masculino.

Mas este hábito, aparentemente inofensivo, pode representar um sério risco para a saúde. A esquistossomose, uma doença provocada por parasitas que penetram na pele durante o contacto com água contaminada.


Esquistossomose, também conhecida por bilharzíase urinária, é causada por um parasita que vive na água doce e parada, como explica o médico imagiologista Nuno Correia, que identificou vários casos enquanto realizava ecografias no Hospital Santa Rita Vieira, Santiago Norte.

Segundo o médico, a infecção ocorre quando a pele entra em contacto com água contaminada.

“É um verme que entra na pele das pessoas, especialmente quando tomam banho em água doce parada. O parasita vive nos caracóis, depois passa para a água e, em contacto com a pele, penetra e segue pelas veias até à bexiga, onde começa a libertar ovos. Quando a pessoa urina, os ovos voltam para a água e o ciclo continua”, explica.

Os sintomas iniciais podem parecer ligeiros, conforme Nuno Correia. “No início, pode haver comichão e vermelhidão no local de entrada do parasita. Mas o principal sinal de alarme é o sangue na urina, que costuma levar as pessoas ao hospital. Também pode haver dor na zona pélvica e febre”, alerta.

O diagnóstico, segundo o especialista, é simples: “Basta fazer um exame de urina e verificar se há ovos do parasita.”

Contudo, se não for tratada atempadamente, a doença pode deixar sequelas graves. “O parasita provoca alterações na parede da bexiga. Começa a formar calcificações, fibrose, e a bexiga deixa de funcionar normalmente. Isso leva a infecções urinárias recorrentes e, em casos mais graves, à obstrução urinária ou até ao cancro da bexiga”, avisa.

O tratamento existe e é eficaz, feito com o medicamento praziquantel. “É fundamental procurar ajuda médica logo que se notem os sintomas. Quando detectado um caso numa zona, é importante informar o centro de saúde para que se avalie a água do tanque e se evite a continuação do ciclo do parasita”, aconselha.

Nuno Correia alerta que os tanques de água das zonas do interior são os locais de maior risco, especialmente durante a estação das chuvas.

“Sempre que os tanques enchem, os caracóis surgem e, com eles, os parasitas. Quando não há água, não há casos. Por isso é que os surtos aparecem por períodos”, reforça.

Nesse sentido, Nuno Correia afirma ser importante que as mães fiquem atentas aos sintomas nas crianças.

“Se houver sangue na urina, dor ou febre, devem procurar o centro de saúde. Também é essencial evitar tomar banho em tanques onde já houve casos. E sim, qualquer pessoa pode ser infectada, não só crianças”, adverte.

Foi na Ribeira de São Miguel que a doença foi diagnosticada pela primeira vez em Cabo Verde, em 2022. No primeiro trimestre deste ano, foram registados mais de 40 casos. As crianças continuam a ser o grupo mais afectado, sobretudo rapazes que tomam banho em tanques contaminados, conforme revela ao Expresso das Ilhas a delegada de Saúde de São Miguel, Antonieta Fonseca.

Expresso das Ilhas // Redação Tiver

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