O especialista da OMS, Jude Bigoga, alertou para o risco de surtos de doenças como dengue e paludismo em Cabo Verde após a tempestade de agosto. Segundo ele, a falta de comunicação eficaz das medidas preventivas coloca em risco a manutenção do estatuto de país livre de malária.
O especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS) Jude Bigoga alertou para o elevado risco de surgimento de doenças transmitidas por mosquitos em Cabo Verde, na sequência da tempestade que assolou o arquipélago a 11 de agosto, provocando nove mortos. Em declarações proferidas na ilha de São Vicente, a mais afetada pelo desastre natural, Bigoga apontou falhas críticas no conhecimento da população sobre medidas essenciais de prevenção.
“Constatamos que, apesar dos esforços do Governo para combater doenças transmitidas por vetores, como o paludismo e a dengue, a população ainda desconhece todas as medidas necessárias. Ou seja, a comunicação não passou bem. Falta engajamento comunitário”, afirmou o especialista, que tem apoiado as autoridades sanitárias locais na formação de agentes de luta anti-vectorial, profissionais de saúde e voluntários para fazer face a uma possível epidemia.
Bigoga sublinhou a necessidade de uma união de esforços para acompanhar o Ministério da Saúde na luta contra estas doenças, deixando um aviso contundente: “Se continuarmos a ter estas doenças transmitidas por mosquitos em São Vicente, tudo indica que a população aceitou conviver com eles, o que não deveria ser o caso”. O especialista alertou ainda ser fundamental trabalhar em conjunto para que Cabo Verde não perca o certificado de país livre de paludismo, um galardão histórico emitido pela OMS em 2024.
Este alerta surge num contexto de reforço das medidas de prevenção e controlo da malária pelo Governo cabo-verdiano, que desde agosto tem capacitado técnicos e melhorado o saneamento básico, após o registo de 30 casos da doença desde janeiro.
A presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), Maria da Luz Lima, já tinha alertado para os riscos sanitários na ilha de São Vicente e solicitado mais apoios externos e um reforço da resposta pós-tempestade. Do lado da OMS, a nova representante em Cabo Verde garantiu o envio de ajuda de urgência para as ilhas afetadas, incluindo medicamentos, antecipando o surgimento de doenças.
No terreno, moradores de São Vicente contactados pela Lusa admitiram o seu receio de contrair doenças devido à acumulação de lixo e água estagnada nas ruas, condições propícias para a proliferação de mosquitos. As cheias inundaram vários bairros, destruíram infraestruturas críticas e afetaram o abastecimento de energia.
Em resposta à calamidade, o Governo declarou situação de calamidade por um período de seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos de São Nicolau. Foi aprovado um plano de resposta que prevê apoios de emergência às famílias e às atividades económicas, financiados pelo Fundo Nacional de Emergência e pelo Fundo Soberano de Emergência.
Fonte: healthnews