No coração da cidade da Ribeira Grande, Santo Antão, muitos preferem “ignorar” a realidade perturbadora que se esconde atrás das paredes da casa, negligenciada, de Fernanda (nome fictício), uma mulher que sofre de doença mental.
Fernanda enfrenta diariamente um cenário de abuso e agressão na sua própria residência.
A Inforpress entrou na casa de Fernanda e constatou que o quarto onde ela dorme é mal iluminado e o ambiente está impregnado com o odor nauseabundo de lixo acumulado.
A cama é uma sombra do que já foi, coberta por lençóis imundos e sem conforto algum. É ali que Fernanda dorme, come e faz as suas necessidades fisiológicas, pois as condições precárias não oferecem alternativas.
A falta de segurança na casa é alarmante. Fernanda é frequentemente alvo de abusos físicos e sexuais por intrusos que aproveitam a vulnerabilidade do local.
Testemunhas relatam que a residência é um ponto de encontro para consumo de drogas e que, frequentemente, pessoas mal-intencionadas entram para explorar e agredir Fernanda, caso ela não atenda aos seus pedidos.
Apesar dos apelos desesperados dos primos, que alegam não ter condições de acolhê-la em suas próprias casas, as autoridades locais parecem “incapazes” de oferecer uma solução eficaz para o problema.
Várias queixas foram registadas, mas até ao momento, não houve uma acção concreta para proteger Fernanda e melhorar as suas condições de vida.
Até ao fecho desta reportagem, a Inforpress não conseguiu apurar se existe no tribunal da Comarca da Ribeira Grande algum processo contra os abusadores de Fernanda.
A situação da doente mental não é apenas uma violação gritante dos seus direitos individuais, mas também um sério problema de saúde pública.
A negligência e o abuso que Fernanda enfrenta diariamente não só comprometem sua saúde física e mental, mas também representam um risco para a comunidade ao redor.
Enquanto Fernanda continua a viver em condições desumanas, é imperativo que as autoridades competentes intervenham de maneira decisiva, defendeu Natália Pires, prima da doente mental, para quem “a protecção dos direitos básicos de Fernanda, incluindo sua segurança e bem-estar, deve ser uma prioridade absoluta para a comunidade”.
A problemática das doenças mentais na Ribeira Grande tem sido cada vez mais evidente, reflectindo uma realidade nacional preocupante. O aumento progressivo dessas condições, segundo o vereador da saúde da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Rui Costa, é atribuído a diversos factores, incluindo o consumo de álcool e outras substâncias, especialmente entre os jovens.
“A doença mental não é apenas responsabilidade da câmara municipal ou da Saúde”, declarou Rui Costa.
O vereador afirmou que existe um estigma em relação a essas condições resultando, frequentemente, na marginalização dos afectados, que passam a maior parte do tempo desprovidos de cuidados básicos e tratamento adequado, prolongando assim as crises.
“Com um acompanhamento adequado é possível reduzir significativamente a duração das crises e promover uma melhor integração dessas pessoas na sociedade”, salientou.
Segundo o enfermeiro e político, a Câmara Municipal da Ribeira Grande, em colaboração com a Região Sanitária de Santo Antão, tem desempenhado um papel crucial na promoção da saúde e prevenção das doenças mentais, incluindo consultas frequentes com psicólogos em todas as estruturas de saúde locais.
No entanto, a mesma fonte ressaltou que o sucesso desse esforço depende, principalmente, do apoio das famílias.
Conforme afirmou Rui Costa, sem o suporte familiar necessário, torna-se mais desafiador enfrentar essas condições de forma eficaz.
Recentemente, segundo o vereador da saúde, também foi discutido um projecto da Aldeia Esperança, uma parceria entre igrejas e câmaras municipais, visando replicar a iniciativa da ilha de Santiago.
Esta proposta, segundo a mesma fonte, ofereceria oportunidades para pessoas dependentes ou com perturbação mental encontrarem um ambiente favorável, participando de terapias ocupacionais e actividades diárias, além de receberem tratamento e acompanhamento adequados.
O Governo declarou 2024 o Ano da Saúde Mental no país, sob o lema “Saúde Mental, prioridade e compromisso de todos!”, chamando a atenção para uma forte consciência social sobre esta problemática.
A coordenadora do projecto, Cristian Wahnon, disse no lançamento que o objectivo é promover um estilo de vida saudável e reforçar as políticas públicas para a melhoria da saúde mental no país.
Segundo a coordenadora, está prevista a criação de centros de apoio a doentes mentais, ou seja, espaços com capacidade para suportar os doentes e seus familiares.
Por outro lado, a ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, que esteve presente na apresentação, ressaltou o compromisso do Governo em criar estratégias baseadas nas práticas clínicas de vanguarda e nas mais actualizadas evidências científicas para enfrentar o problema.
A declaração do Ano da Saúde Mental pelo Governo visa ampliar e qualificar a rede de serviços de saúde mental em todo o território nacional, promover campanhas de conscientização sobre a saúde mental e implementar programas de formação e capacitação para profissionais em Saúde Mental.
Fonte: Inforpress // Ad: Redação Tiver