De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), a maioria dos incidentes, que incluem o uso de dispositivos explosivos improvisados, são ataques de grupos armados não estatais contra civis.
A província de Cabo Delgado, rica em gás natural, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
A agência da ONU refere que a “escalada do conflito e da violência” na região norte de Moçambique afeta civis dos distritos de Ancuabe, Balama, Chiúre, Macomia, Mocímboa da Praia, Montepuez e Muidumbe, em Cabo Delgado, os distritos de Nangade e Memba, na província de Nampula e algumas regiões da província de Niassa.
“A violência civil está a caminho de atingir um recorde em 2025, com 519 ataques relatados até o final de agosto, em comparação com 448 em 2022”, alerta-se.
O OCHA avança ainda que dados de organizações humanitárias que operam na região indicam que 20.181 pessoas, incluindo mais de dez mil crianças, foram deslocadas em Cabo Delgado desde agosto.
A organização admitiu, no entanto, que o número pode ser maior, uma vez que deslocamentos adicionais ainda não foram registados e muitas pessoas permanecem em suas comunidades, “fugindo para a mata e retornando para casa assim que a segurança permitir”, ou procurando refúgio em outras comunidades.
“Na província de Nampula, em 25 de setembro, as Forças de Defesa de Moçambique intercetaram um grupo armado no distrito de Eráti, prendendo um membro. Em retaliação, os mesmos teriam matado um civil, cujo corpo foi encontrado ao longo do rio Lúrio”, descreve-se.
Ataques em Membana na sexta-feira resultaram em múltiplos sequestros e incêndios de casas e “novos ataques” dois dias depois em Memba destruíram casas e infraestrutura pública, incluindo uma escola e um centro de saúde na comunidade de Pavala, refere o OCHA.
“Em Niassa, o Estado Islâmico Moçambique, por meio de um meio de comunicação ligado ao Estado Islâmico, assumiu a responsabilidade pelo sequestro de um casal no distrito de Marrupa em 22 de Setembro. A mulher foi posteriormente libertada”, avançou a organização.
A agência da ONU explica que há também pessoas afetadas que permanecem nas comunidades, muitas das quais já haviam sido deslocadas e retornaram às áreas de origem, uma vez que a prestação de ajuda humanitária caiu “significativamente” nas áreas de deslocamento, principalmente no sul de Cabo Delgado, a partir de 2023.
“Os parceiros estão a fornecer assistência às populações deslocadas em Mueda, Muidumbe, Ancuabe, Balama e Montepuez, através do Mecanismo de Resposta Rápida (RRM) liderado por Organizações Não-Governamentais, mas muitos, noutros distritos, continuam sem apoio; é necessário mais financiamento flexível”, acrescenta-se no documento.
Fonte: DW