Jeffrey Page, coreógrafo, professor de Harvard e pesquisador, iniciou um tour cultural por países da África Ocidental francófona e lusófona. O objetivo é documentar tradições ameaçadas e criar um documentário que explore as conexões culturais entre a África e a diáspora africana.
Durante a sua passagem por Cabo Verde, Page se deparou com a tradição Tabanca, que descreveu como uma teia de conexão entre a cultura local e práticas semelhantes. Ele observou que essas manifestações, muitas vezes desvalorizadas por uma mentalidade colonizadora, carregam inteligência e história que precisam ser respeitadas.
“Sendo um afro-americano, a cultura é muito delicada. Na maioria das vezes, os afro-americanos se sentem completamente desconectados da cultura em geral. Eu acredito que há uma forma de conectar a cultura. Algumas pessoas se conectam a cultura através da comida. Outras pessoas se conectaram à cultura através da epigenética. Eu acredito na possibilidade de conectar a cultura através da dança e do movimento. Estou nesta jornada para tentar descobrir como conectar a diáspora africana por meio da dança”. – Jeffrey Page
Jeffrey Page também refletiu sobre o impacto do relatório “Harvard and the Legacy of Slavery”, que aborda os danos da escravidão e recomenda ações de reparação. Por isso, ele destacou a importância de valorizar o conhecimento ancestral e as expressões culturais.
“No relatório de Harvard sobre o legado da escravidão, a universidade confirma sua participação no comércio transatlântico de escravizados e propõe recomendações de peças. Durante esta análise, o professor questiona o conceito de excelência acadêmica, se ela se refere ao ponto de vista de um colonizador ou à inteligência das pessoas escravizadas, muitas vezes desvalorizadas. Ele se destaca como culturas como o Batuku e o Junkono são vistas de forma trivial pelos colonizadores, sendo reduzidas a meras danças, sem reconhecimento do seu valor cultural e intelectual”. – Jeffrey Page
No centro de sua pesquisa, Page busca desafiar visões colonizadoras que desqualificam elementos como tabanca, batuku e outras manifestações culturais. Ele acredita que é essencial enxergar a beleza, a inteligência e o poder de preservação cultural nessas expressões.
“Questão que perguntei ao meu amigo de Nigéria É a questão que eu ia perguntar a você, como nós vemos algo que, por um lado, é tribal e, por outro lado, você faz por diversão, mas também é algo duradouro na cultura, inteligente. Como você acha que a mentalidade dos nossos colonizadores poderia ser em relação a esses itens? E, na verdade, como eles olhavam para a beleza, inteligência, cultura e a importância de carregar a cultura nesses aspectos”.- Jeffrey Page
Ao concluir sua viagem, Page planeja transformar suas descobertas em um documentário de longa-metragem, que celebre e preserve as tradições da diáspora africana. O projeto pretende amplificar vozes e práticas culturais que foram marginalizadas, ajudando a reconectar os “povos perdidos” à sua rica herança africana. O tour inclui visitas a Senegal, Mali, Guiné e Cabo Verde, onde ele encontrou expressões culturais que considera essenciais para entender e preservar a herança africana.
Redação Tiver